O pedestre encurralado

O pedestre no Brasil é um pária, ele não tem lugar. É constantemente ameaçado de morte e muitas vezes nem se dá conta disso. Quando tirei carteira de habilitação me ensinaram que o carro é uma arma, porém acho que fui só eu mais meia dúzia de pessoas que aprendemos a lição. Poucos percebem, mas andar de carro é uma agressão constante a todos os demais. Quando um motorista não pára para um pedestre que atravessa rua ele automaticamente está dizendo “saia da frente ou eu lhe causarei danos físicos, talvez até te mate”.

Nas últimas décadas, o aumento exponencial do número de carros, aliado a más políticas de transporte público e o conseqüente alargamento de ruas e avenidas tem deixado cada vez menos segurança e espaço para se caminhar, viver e conviver na cidade. O pedestre fica confinado a calçadas cada vez mais estreitas, e nem mesmo lá está seguro.

E assim a vida de quem anda a pé fica cada vez mais insuportável, fazendo com que os pedestres desejem ter carros e passem a serem opressores ao invés de oprimidos.

Em Porto Alegre, onde vivo, e acredito que também na maioria das metrópoles brasileiras, as vias públicas privilegiam cada vez mais os automóveis em detrimento do transeunte. Isso aliado ao fato de que alguém teve a idéia de jerico de tirar a atribuição de fiscalizar o trânsito da Brigada Militar e criar mais uma polícia: os fiscais de trânsito, que nem ao menos são respeitados. Graças a essa idéia, não há mais policiais na ruas, aumentando a insegurança, e não há fiscalização no trânsito, já que a EPTC (Empresa Pública de Transporte Coletivo) não existe.

Assim todo dia vemos um número crescente de motoristas ultrapassando o sinal vermelho, falando ao celular dirigindo, tentando atropelar pedestres que ousam atravessar a rua e motoqueiros atalhando por cima das calçadas.

Aguardo com ansiedade o dia em que vão destruir minha moradia para construir um viaduto, um estacionamento ou alargar a via e terei que ir morar na calçada, rezando para não ser atropelado por um motoboy.


Pelo fim do asfalto.

Hoje em dia, sobretudo nas grandes cidades, o asfalto está por todo lugar e, onde ele não está, as pessoas fazem pressão para que ele chegue logo. Mas o asfalto tem que acabar. Por quê? Os motivos não são poucos:

1) Asfalto mata. Onde há asfalto, os motoristas correm mais e a conseqüência é um número maior de acidentes e mortes relacionadas. Um bom exemplo é Bagé, no interior do Rio Grande do Sul, onde apenas três avenidas são asfaltadas e o resto é pavimentada com paralelepípedos. Adivinhem quais são as ruas onde mais acontecem acidentes fatais?

2) Asfalto é caro. Apesar de a instalação do metro quadrado do asfalto custar praticamente o mesmo que os velhos paralelepípedos, acaba saindo muito mais caro pois o asfalto precisa de muito mais manutenção, sua durabilidade é menor, e cada vez que é preciso cavar na via para obras no sistema de esgoto (por exemplo) é necessário fazer remendos, enquanto que os paralelepípedos podem ser reutilizados e duram centenas de anos.

3) Asfalto esquenta. O asfalto absorve mais calor que os paralelepípedos,

o que acaba aumentando as temperaturas das áreas urbanas.

4) Asfalto alaga. O asfalto impermeabiliza a via, impedindo que a água das chuvas seja absorvida pela terra, causando alagamentos e potencializando enchentes. Além disso, a água que se acumula sobre o asfalto acaba contribuindo na deterioração do mesmo, aumentando os custos de manutenção.

5) Asfalto cheira mal. E o pior não é isso com o calor e o desgaste pelo trânsito, o asfalto solta uma fuligem que acaba indo pros nossos pulmões.

6) Asfalto é derivado de petróleo. E altamente poluente.

7) Asfalto é líquido. O que o torna inapropriado para pavimentação de vias onde trafeguem veículos pesados, como ônibus e caminhões. Nos corredores de ônibus asfaltados, por exemplo, existem verdadeiras valas, que marcam a trajetória dos pneus.

Esses foram os motivos que me ocorreram agora, mas devem haver outros tantos. E existem é claro, exceções, casos onde o asfalto pode ser bem aplicado como ciclovias e pequenos trechos de lombas íngremes, para evitar o derrapamento dos carros.

Para quem quiser ler mais.